Depressão

No mundo todo tem aumentado os diagnósticos de pacientes com Depressão. 

Mas qual a experiência por trás dessa palavra? Será que sempre que estamos nos referindo a essa palavra estamos nos referindo a doença?

Essa palavra, muitas vezes é utilizada para expressar o que se passa dentro de  uma pessoa. Por exemplo: “Estou deprimido hoje”. “Hoje acordei muito deprimido, mas já estou me sentindo melhor.” “Hoje estou com uma depressão tão grande!”. Utilizamos essa palavra de inúmeras formas, com base no conhecimento que temos a respeito do tema. Mas será que estamos nomeando adequadamente esses sentimentos?

Toda palavra tem uma estrutura que traz em si, um conjunto de experiências internas, recheadas de sentidos. Em muitos casos, depressão pode ser sinônimo de tristeza, angústia, desânimo. Em outros, pode representar um conjunto de sinais e sintomas que vão muito além de um sentimento. O certo, é que sentimos algo que é muito desconfortável, que nos coloca para baixo, que retira toda nossa energia e que suga toda nossa energia vital. Este sentimento, pode ser apenas a ponto do iceberg, de uma doença,  que podemos chamar de depressão.

É muito difícil mensurar ou medir o sofrimento de alguém, quiçá comparar com o sofrimento de outra pessoa. Então, como os médicos que  trabalham com saúde mental, diagnosticam essa doença? Como saber que o que estamos sentindo, pode ser depressão mesmo.

Os psiquiatras são treinados para avaliar os pacientes e utilizam o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª. Edição) e a CID 10 (10ª revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) para diagnosticar os transtornos mentais. Os Médicos de Família e Comunidade utilizam o CIAP-2 (Classificação Internacional de Assistência Primária) para guiar os seus diagnósticos. Esses instrumentos foram criados para estruturar o diagnóstico das doenças mentais no mundo inteiro. Um conjunto de sinais e sintomas, que um paciente apresenta, em um determinado tempo é classificado de uma determinada forma. Através da observação, da avaliação da clínica e do exame de saúde mental o médico faz seu diagnóstico. Que nem sempre acontece em apenas uma consulta.

Depressão

Então o que fazer?

É importante compreender que se você está sentindo um quadro de tristeza profunda, fadiga, de que a vida não está caminhando, e que esse quadro está se mantendo ao longo do tempo e que a pessoa não era dessa forma e que isso está comprometendo seu dia-a-dia. É interessante procurar uma ajuda especializada para iniciar uma avaliação. Hoje é necessário que todo profissional da equipe de  saúde saiba e compreenda o que é depressão e possa orientar adequadamente um paciente para alguém que possa tratá-lo. Muitas vezes a porta de entrada pode ser uma amiga, uma familiar, uma nutricionista, um educador físico, um fisioterapeuta, uma enfermeira, uma Assistente social, uma professora,  ou qualquer membro da equipe de saúde que possa observar que aquela tristeza perdura, ou que a pessoa está funcionando de uma maneira diferente do habitual. 

Seguem uma lista de sinais e sintomas que podem indicar que uma pessoa possa estar apresentando um quadro de depressão segundo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª Edição):

  1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (ex.: sente-se triste, vazio ou sem esperança) ou observação feita por outros (ex.: parece choroso).
  2. Diminuição acentuada do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias.
  3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta, ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias.
  4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias.
  5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observável por outros, não apenas sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento).
  6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
  7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que pode ser delirante) quase todos os dias (não apenas autorrecriminação ou culpa por estar doente).
  8. Capacidade diminuída para pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias (relato subjetivo ou observação feita por outros).
  9. Pensamentos recorrentes de morte (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou um plano específico para cometer suicídio.

Como funciona o diagnóstico? Se você observar cada um desses itens acima separadamente vai perceber que inúmeras situações que acontecem na nossa vida podem nos fazer funcionar desta forma, mas não necessariamente nos fazem estar com depressão. Daí a importância em procurar um profissional que foi treinado para que possa fazer uma avaliação adequada.

PESSOAS QUE EXPRESSAM SOFRIMENTO  PODEM REMETER A DIFICULDADES MUITO COMUNS DA VIDA MODERNA 

  • Desigualdades   sociais falta de acesso a condições mínimas de alimentação, moradia, saneamento e higiene, vestuário e transporte;
  • Violência – exposição indesejada a situações de coerção física ou psicológica;
  • Luto – perdas ou doenças graves de familiares, pessoas próximas ou ani- mais de estimação; 
  • Família – situações desconfortáveis no relacionamento com parceiro(a), filhos, pais, irmãos ou outros; 
  • Trabalho – condições laborais difíceis, relacionamento ruim com superior ou colegas, iminência de demissão ou fechamento da empresa, sensação de injustiça no reconhecimento de seu desempenho; 
  • Doença – preocupação exacerbada com sintomas ou sinais físicos apa- rentemente benignos, diagnóstico recente de doença grave ou letal, con- viver com doença crôn ica degenerativa e/ou incapacitante;
  • Serviços de saúde – dificuldade de acesso, mau atendimento, resposta inadequada às demandas do usuário;
  • Gravidez e puerpério – as complexas modificações provocadas na vida e no corpo da mulher durante e após a gravidez estão relacionadas com maior possibilidade de sintomas depressivos, quadro que também tem sido chamado de depressão pós-parto. 

Fonte: Tratado de Medicina de Família e Comunidade

Qual o tratamento para depressão?

Em muitos casos, os pacientes, dependendo do estágio da doença, podem ser tratados com uma boa psicoterapia, com mudanças no estilo de vida  e com suporte adequado. Em outros, pode ser que  haja necessidade de iniciar uma medicação. Também existem situações, que uma  outra doença pode estar gerando sintomas que podem mascarar um quadro depressivo.

ALGUNS QUADROS CLÍNICOS QUE PODEM APRESENTAR SINTOMAS DEPRESSIVOS 

Hipotireoidismo

Solicitar investigação laboratorial (TSH) apenas se houver alta suspeição clínica: ganho de peso > X% em 30 dias; letargia; ressecamento da pele; constipação.

Transtorno bipolar ou psicose afetiva

Alternância de 2 ou mais episódios de incontrolável excitação e euforia com episódios depressivos. O tratamento com antidepressivos pode precipitar uma

crise maníaca e aumentar a suspeita.

Esquizofrenia

Quadro inicial pode ter embotamento, isolamento social e sonolência. Sintomas positivos, como delírios, alucinações e surtos psicóticos, ajudam no diagnóstico diferencial.

Demência

Prejuízo da memória, da orientação espacial e cognitivo se destacam em relação aos sintomas depressivos, mas um teste terapêutico pode ajudar. 

Condições clínicas situações clínicas que cursam com fadiga e astenia debilitante podem ser confundidas ou mesmo provocar perturbações depressivas. Alguns exemplos são: anemias, neoplasias, doenças crônico-degenerativas, insuficiência renal e insuficiência cardíaca.

Fonte: Tratado de Medicina de Família e Comunidade

Quando iniciar o tratamento?

O seu médico vai saber quando iniciar o tratamento medicamentoso adequado. Mas o tratamento inicia mesmo quando você decide procurar ajuda. “Vou tomar medicamento para sempre?”, “Tenho medo de ser estigmatizado!”, “Quem toma remédio psiquiátrico é doido?”  Muitas vezes, o julgamento vem da nossa própria estrutura de crenças. Aprendemos de forma inconsciente que ter depressão é sinônimo de fraqueza, ou desequilíbrio, vulnerabilidade. Como se poucos no mundo passassem pelo adoecimento. Então, nos tornamos refém de nós mesmos, dos nossos próprios julgamentos e deixamos de procurar ajuda e iniciar um tratamento que poderia levar nossa vida para outro patamar de saúde e bem-estar. 

Como seres humanos inseridos nessa jornada diária em um mundo recheado de informações, não aprendemos instrumentos para lidar com algumas situações do dia a dia. Em outras situações, precisamos resolver situações não integradas no passado (traumas, luto, doenças, relacionamentos). Muitas vezes inconscientes, que nos impedem de viver nosso pleno potencial. Então, tanto precisamos aprender instrumentos para nos comunicarmos melhor, nos relacionarmos melhor com os outros e com nós mesmos, quanto precisamos resolver questões internas que podem estar minando nossa energia e nos impedindo de seguir o fluxo vital.

Depressão

E onde entra a medicação?

Seria interessante tomar uma medicação e, por si só, ela fazer o seu efeito, a vida melhorar e seguir em frente. Em muitos casos, isso realmente acontece. Quando o paciente inicia a medicação adequada, bem prescrita, na dose adequada a melhora é significativa. Mas geralmente a medicação, por si só, não deveria ser a única alternativa. Pode ser muito mais útil e eficiente para o paciente, que o remédio para depressão atue junto com a psicoterapia, com uma dieta adequada, com atividade física e com mudanças também no núcleo familiar. Encontrar o suporte necessário para encarar algumas destas questões vai muito além de tomar uma medicação.

Ter um profissional experiente, sensível, maduro que possa criar um campo de suporte seguro com aceitação incondicional, respeito, compaixão, para que o paciente possa explorar e transformar questões profundas dentro de si  e reerguer-se e ser protagonista de sua própria história . Esse profissional precisa ver o paciente como um todo, precisa dedicar um tempo de consulta adequado para uma escuta qualificada e que possa estar junto com o paciente em sua trajetória. Esse pode ser um excelente primeiro passo para a busca de sua saúde mental.  

Saúde Mental

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